A Dor de Quem Fica
As características do luto são descritas como sendo um profundo desânimo, uma perda do interesse pelo mundo externo, a inibição das atividades do indivíduo, a incapacidade de amar, o sentimento de angústia e revolta.
Durante o episódio de luto é fácil notar no indivíduo a diminuição da autoestima, acompanhada de intensas autoacusações, podendo resultar até mesmo numa expectativa delirante de punição, bem como a melancolia. O tempo, como muitos acham, pode não ser o remédio para a elaboração do luto. O tempo ameniza a dor, mas também é capaz de gerar um luto maior ainda, o luto crônico. O luto crônico nos faz permanecer na tristeza e, quanto maior a duração do tempo, mais intenso o sofrimento. O luto não elaborado pode se manifestar não só na tristeza, mas também em doenças psiquiátricas, por isso é fundamental a elaboração desse luto. ?? preciso falar sobre suas perdas.
O processo psicoterapêutico envolve esse momento de fala e cura. Esse tempo é estimado em um ano de acompanhamento psicológico, mas pode variar de acordo com cada paciente e suas particularidades. Observa-se que algumas pessoas, mesmo antes de passarem por um luto, já possuem traços melancólicos em sua personalidade. Essas pessoas são as que têm mais dificuldades em lidar com perdas. Do outro lado, aqueles que sempre tiveram uma postura mais serena e equilibrada diante os conflitos vivenciados durante a vida lidam melhor com perdas, pois já têm uma predisposição para lidar melhor com as frustrações que a vida impõe. A duração e intensidade desse sentimento vai depender do histórico de perdas da pessoa e também do grau de relação com quem morreu.
A perda de um filho e mortes traumáticas podem ter uma fase de negação mais prolongada, pois a culpa e a revolta aparecem com maior intensidade, nesses casos. Quando ocorrem celebrações de datas importantes como o Natal, a primeira data de aniversário da pessoa que morreu, o ideal é que o enlutado sinta a ausência, pois isto é um fator positivo, que faz com que o indivíduo entre em contato com a realidade: a perda da pessoa amada. Por isso é fundamental que essas datas não sejam discriminadas e ???esquecidas??? pela família, para de amenizar o sofrimento. Entrar em contato com a realidade, por mais horrível e dolorida que seja, faz com que o enlutado se fortaleça.
Do ponto de vista da Psicoterapia, é importante que se possa acompanhar o paciente durante o primeiro ano da perda, para estar junto nesses momentos. O paciente não precisa ser forte nesse momento de perda. Ele precisa ser coerente com seus sentimentos. Muitas vezes é preciso verbalizar, deixar esse paciente sofrer no momento exato, expressar a dor abertamente e compartilhar o sofrimento. Ignorar a dor não irá fazê-la ir embora. ?? preciso falar com ela sobre isso, assim podemos ajudar e fazer a pessoa se sentir melhor. A base de uma psicoterapia de luto se baseia em permitir o sofrimento, deixar o paciente falar e chorar a morte, fazer que a pessoa enlutada se livre do sentimento de culpa, seja ele qual for. E no final desse processo, quando o paciente já falou, chorou, e não se sente mais culpado, mostrar a ele o caminho para que possa ser feliz novamente.
????? possível conviver com o luto e ser feliz???
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Matéria por
Jaqueline Garcia Alarcão
Psicóloga CRP 08/13978 | Campo Mourão