Com exceção da água potável, nenhu- ma descoberta, nem mesmo os antibi- óticos, produziu um efeito tão grande na redução da mortalidade da popu- lacional mundial quanto a vacinação.
As vacinas foram responsáveis por um aumento de cerca de 30 anos em nossa expectativa de vida nos últimos dois séculos. Os efeitos da imunização são inquestionáveis. Inúmeras evidências demonstram seu potencial de melhora das condições de saúde das pessoas.
No Brasil foi possível erradicar e/ou reduzir enfermidades como varíola, poliomielite, coqueluche, rubéola e téta- no. As campanhas de vacinação foram bem-sucedidas a ponto de se pensar que doenças como essas não fossem mais ameaças.
Muitas pessoas lembram das vacinas apenas em situações de risco iminente e durante as campanhas. Há também quem não se vacine nem vacine seus filhos. Essa atitude é parte do movimen- to antivacina, que ganha adeptos com as desinformações espalhadas – sem restrições, e por quem raramente tem formação especializada – pelas redes sociais.
O movimento antivacinas se baseia em motivos religiosos, filosóficos ou diretamente de saúde, como o receio de reações adversas. Eventualmente, a orientação contra o ato de se imunizar parte de alguns médicos. Os argumentos do movimento não encontram respaldo científico.
1- O argumento de que as doenças produzem imunidades naturais supe- riores e duradouras, superiores às va- cinas, é infundado e coloca em risco a vida de um bebê que pode ter sarampo, meningite, coqueluche e doenças po- tencialmente letais. As vacinas atuais produzem altas taxas de anticorpos com imunidade duradoura (ex: HPV), e algumas exigem reforços para garan- tir imunidade prolongada (ex: Tríplice bacteriana).
2- O receio de “sobrecarga antigênica” também não é verdadeiro. O sistema imune do recém-nascido já é capaz de responder a um número elevado de antígenos.
3- Outro receio frequente é o uso de Timerosal. Trabalhos de acompanha- mento no decorrer dos anos não mos- traram nenhuma evidência de atraso neuropsicomotor em crianças que rece- beram dosagens variadas de Timerosal. Ele é usado como conservante antibac- teriano em frascos de múltiplas doses.
Vacinas podem, sim, causar reações adversas como febre, mal-estar, irri- tabilidade, reações locais e, muito ra- ramente, efeitos mais graves. Existem provas abundantes, porém, de que os benefícios da vacinação superam em muito tais eventualidades.
A resistência à vacinação se dá com todos estes argumentos falsos e fanta- siosos e em geral é parte da defesa de um mundo mais “natural” de vida, como se vacinar equivalesse, digamos, a con- sumir junk food ou excesso de remédios. O que deixa de dizer é que com o modo de vida “natural” antes das vacinas, nos séculos 18 e anteriores, a saúde e a ex- pectativa de vida das populações era largamente inferior à que temos hoje.
Doenças imunopreveníveis
Varíola. A vacina foi desenvolvida em 1798. Desde então tem salvado milha- res de vidas. A doença foi erradicada em 1977.
Poliomielite. Causa sequelas gravíssimas ou mortes precoces. Graças às campanhas de vacinação, deixou de existir no Brasil em 1989. No entanto, persiste no Afeganistão, Paquistão e em outros países. Com a globalização, a queda da cobertura vacinal nacional pode expor o Brasil à doença.
Coqueluche. Desde 2010, houve aumento dos casos no mundo todo, afetando principalmente crianças até seis meses, que ainda não completaram o ciclo básico de vacinação. Adultos e adolescentes, com imunidade decres- cente, representam, quando infectados, uma fonte de contágio para os bebês. É especialmente importante a vacinação de gestantes com a tríplice bacteriana, que além da coqueluche protege contra difteria e tétano.
Sarampo. Foi uma das maiores cau- sas de mortalidade infantil até 1963, quando foi descoberta a vacina. A queda recente da cobertura vacinal fez com que houvesse surtos em diversos países. No Brasil, em 2019 foram registrados 6,4 mil casos até o início de outubro, com alguns óbitos. A proteção se dá com a tríplice viral, que imuniza também contra rubéola e caxumba.
Rotavírus. Após a introdução da vaci- na, em vários países do mundo houve redução de 80% dos óbitos em crianças menores de um ano e em 40% do total de internações hospitalares. Os efei- tos adversos podem ocorrer em até 48 horas: febre baixa, diarreia e, eventualmente, fezes com sangue. Toda essa situação é mais amena que a infecção pelo vírus selvagem. É importante salientar que não há relatos da OMS sobre a possibilidade de a vacina rotavírus provocar APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca). A alergia tende a surgir justamente na fase da vida em que ocorre a vacinação, e às vezes coincide com o desmame precoce dos bebês.
Rubéola. Após campanha intensa em 2008, a doença foi eliminada em 2009. Nos casos de gestantes com a doença, há risco de rubéola congênita.
Meningite e pneumonia. As vacinas reduziram a internação por essas doenças principalmente no caso de crianças até dois anos.
HPV. É considerada a infecção sexual- mente transmissível de maior incidência no mundo e responsável por 100% dos casos de câncer do colo do útero. As vacinas, feitas por engenharia genética, têm alta potência e relevância na redução de diversos tipos de câncer.
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Matéria por
Marilene Salette Momm
Pediatria CRM/SC 3331 | RQE 2862 | Florianópolis