A divisão entre mente e corpo até recentemente, era bastante retrógrada e geradora de conflitos e angústias, para profissionais e leigos. Na prática médica psiquiátrica diária, observo que muitos pacientes ainda se confundem com os limites tênues existentes entre as questões somáticas e mentais.
Muitos colegas psiquiatras ainda resistem em encaminhar seus pacientes ao psicólogo, e vice-versa, o que é muito destrutivo para a ação terapêutica holística que esses quadros requerem. Devemos sempre olhar para o paciente de uma forma abrangente em seu universo psicológico, para podermos proporcionar a este ser humano um estado de equilíbrio. Ouvimos, repetidamente, pessoas que se dizem saturadas, confusas e exaustas frente às opressivas exigências, aos papéis que mudam e à pressão sem precedentes dos novos tempos. Nos dias de hoje, a psiquiatria e a psicoterapia enfrentam novos desafios, assuntos complexos e inquietantes tornaram muitos dos antigos modelos e técnicas obsoletos. Agora, as pessoas têm que caminhar num terreno desconhecido e no qual antigos papéis, valores e tradições perderam sua aplicação. Uma nova visão de mundo se torna necessária devido a questões como: relacionamento virtual, casamento à longa distância, engenharia genética, violência contra a mulher, aspectos psicológicos das doenças ginecológicas, dependência de drogas, estresse, infertilidade , quadros de senilidade devido à longevidade e muitos outros. Conceitos sociais que mudam rapidamente, requerem novos posicionamentos livres de preconceitos, no que concerne a uniões, reproduções, amor, profissão... Na prática isto é extremamente difícil. Requer determinação, paciência e flexibilidade na busca de uma mudança global do psiquismo. Estamos precisando reconsiderar o que é normal ou anormal, natural ou não natural. A questão da psicoterapia não é tão somente metodológica, mas ideológica, assim como a questão em psiquiatria não é somente medicamentosa, mas contextual. Uma diversidade de publicações tentam passar receitas de qualidade de vida, simplificando problemas. Se a felicidade fosse fácil de ser alcançada, objetivamente, por que assistimos ao crescente aumento dos distúrbios mentais, entre eles a Síndrome do Pânico e a Depressão? Ao ignorarem as questões sociais que estão acontecendo, essas publicações parecem tornar imutáveis as diferenças entre gêneros, culturas, crenças e valores. Se partirmos desse pressuposto, a única terapia possível seria a predisposição genética dos parceiros.
Para que os profissionais da área de saúde mental acompanhem as pessoas, atualmente, é necessário que as ajudem a olhar além de seus mundos particulares, ou seja, para as forças sociais externas que atualmente estão determinando o seu mundo. As revoluções acontecem na biologia, na tecnologia e na genética, levando a mudanças dos princípios da própria natureza e do foco da terapia. O próprio ciclo de vida já não é mais o mesmo. As drogas que alteram o humor, a tecnologia da reprodução e a comunicação eletrônica, dão um novo significado ao nascimento, crescimento, envelhecimento, casamento... Existe um limite para o comprometimento? Como é possível competir com as fantasias virtuais? O filho pode levar a namorada para dormir em casa? Liberamos ou não a maconha?... Esses novos paradigmas são apenas a ponta do iceberg. Porém, a discussão é ampla, profunda e gera polêmicas construtivas. As respostas a essas perguntas requerem um julgamento de valor, uma reordenação de nossas idéias. Por um lado, essas mudanças dão as pessoas maior liberdade, opção e possibilidades para desenvolver meios de estarem juntas da maneira que desejarem. Por outro, podem facilmente desorientá-las, propiciando novos tipos de preconceitos.
Psiquiatria e Psicoterapia Psiquiatria: representa o entrelaçamento entre o aspecto biológico dos distúrbios mentais e a origem psicológica e social (psicossocial) de tais distúrbios. É uma ciência exclusivamente médica. Hoje, sabemos que vários transtornos mentais (depressão, síndrome do pânico, alcoolismo e esquizofrenia) têm uma base biológica. Substâncias químicas que conectam os neurônios, como a serotonina e a dopamina, e os aspectos psicossociais servem como “gatilhos” para os distúrbios mentais.
Psicoterapia: visa dar um suporte afetivo-emocional, reorganizando e resignificando as histórias de vida, os pensamentos e os sentimentos das pessoas. É um trabalho eminentemente psicológico. Pode ser realizada por psicólogo ou psiquiatra, desde que especializados em algumas das linhas existentes : Cognitiva-Comportamental, Psicodinâmica( Psicanálise,Psicologia Analítica,etc...), Humanista ( Gestalt, Psicodrama, etc...),Sistêmica, entre outras.
Matéria por
Ã?ndrea Kraft
Psiquiatria CRM/PR: 16335 | RQE: 2825 | Campo Mourão