“Enquanto médico, sempre me pergunto que imagem traz o doente. O que significa ele para mim? Se nada significa, não tenho um ponto de apoio. O médico só age onde é tocado. ‘Só o ferido cura.’ Mas quando o médico tem uma persona, uma máscara que lhe serve de couraça, não tem eficácia. Levo meus doentes a sério. Talvez esteja exatamente como eles diante de um problema.” (C. G. Jung)
Desde a graduação, venho investindo na formação profissional relacionada à área da Saúde, Desde o momento em que ingressei em uma UBS, um fator impactante foi a enorme demanda de pacientes com os mais variados distúrbios e a falta de instrumentos essenciais para o desenvolvimento de um trabalho adequado. Percebi que havia uma enorme defasagem, tanto do ponto de vista de estrutura física (condições precárias do local em si), quanto do ponto de vista material, pela falta de recursos, e também e não menos importante, algum tipo de suporte emocional para o profissional da saúde. Neste contexto, fui percebendo que alguns profissionais das equipes de Saúde estão adoecendo. Comecei a refletir se essas doenças teriam alguma relação com o trabalho e pela literatura existente sobre estresse ocupacional, e Síndrome de Burnout, cheguei a conclusão que sim.
A Síndrome de Burnout caracteriza-se por um quadro de exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal. A exaustão emocional é considerada o traço inicial da síndrome e caracteriza-se pela sensação de esgotamento emocional e físico no trabalho. A despersonalização é caracterizada pela insensibilidade emocional do profissional, que passa a tratar pacientes e colegas como objetos, traduzindo a desumanização, a hostilidade, a intolerância e o tratamento impessoal. Esta característica é um dos aspectos fundamentais para a caracterização da síndrome de Burnout, já que suas outras características podem ser enquadradas nos transtornos depressivos em geral.
A sensação de baixa realização profissional ou ineficácia revela uma auto-avaliação negativa associada à insatisfação e infelicidade com o trabalho e evidencia que as pessoas que sofrem de Burnout tendem a acreditar que seus objetivos profissionais não foram atingidos e vivenciam uma sensação de insuficiência e baixa auto-estima profissional (Barros et al, 2007). O fato é que os profissionais da Saúde, muitas vezes, estão tão empenhados no cuidado com seus pacientes que acabam não tendo disponibilidade para olhar para si mesmos, e ver o quanto precisam de cuidados.
Acabamos nos deparando com o seguinte dilema: a Saúde está doente! E agora?
Em consulta à literatura existente, percebi que existem ainda poucos estudos realizados sobre possíveis intervenções com os profissionais da Saúde , que muitas vezes trabalham em condições precárias, e estão constantemente em contato com a dor/sofrimento físico/psíquico do outro. Assim, fica difícil para o profissional buscar algum tipo de ajuda específica para lidar com as questões ligadas ao trabalho. Dessa forma, quem cuida do cuidador? Afinal, conforme Esslinger afirma: “Para que eu possa cuidar do outro, devo, antes, cuidar de mim (...)”.(Esslinger, 2003).
Assim, acredito que seja fundamental que se pense não somente em humanização dos cuidados com os pacientes, mas que se pense o mesmo com relação aos profissionais da Saúde. Logo, é necessário um aprofundamento do estudo das causas deste adoecimento, bem como das medidas preventivas e como reabilitá-los. Segundo a OMS, “nossa saúde mental tem um impacto opressivo em nossas habilidades para funcionar e participar na sociedade. Temos que começar a colocar mais de nossos recursos a favor da saúde mental”.
Matéria por
Ã?ndrea Kraft
Psiquiatria CRM/PR: 16335 | RQE: 2825 | Campo Mourão