Quando está indicada investigação imediata?
1. Faixa etária de risco: recém-nascido (investigação obrigatória), dois primeiros meses de vida (investigação recomendada) e terceiro mês de vida (desde que a impressão geral seja satisfatória, é aceitável manter em observação atenta). A partir dos três meses, é válida a observação em ambulatório com acesso (telefônico, retorno) facilmente disponível e programado.
2. Febre de mais de 39,4ºC, especialmente se acompanhada de tremores de frio, sugere infecção bacteriana/bacteriemia12). Suspeitar também em casos de temperatura abaixo de 36ºC em criança abatida.
3. Estado infeccioso/toxêmico acentuado: má impressão geral, aspecto abatido, inapetência, irritabilidade alternada com sonolência, letargia, apatia, fácies de sofrimento, choro inconsolável ou choramingas, gemência (sinal de alarme) e a disposição da criança.
4. Duração da febre maior que três dias (mais de 72 horas), contados com a maior precisão possível a partir do momento presumido do início da febre.
A febre tem a utilidade de servir como sinal de alerta, e estima-se que 20% a 30% das consultas pediátricas têm a febre como queixa única preponderante. Separamos algumas questões que compõem as principais dúvidas sobre o assunto. As infecções virais têm “direito” a três dias de febre (adenovírus podem causar febre um pouco mais prolongadas). Ultrapassados os três dias, pensar em infecção urinária (solicitar bacterioscópico de urina), especialmente em crianças abaixo de dois anos, sem outra sintomatologia; mas se a febre prolonga uma infecção das vias aéreas superiores, suspeitar de contaminação bacteriana (rinossinusite-otite). a erupção aparece subitamente após três dias de febre e coincidindo com a queda brusca da temperatura. O conhecimento de outros casos ocorrendo na mesma época e a presença de edema palpebral após dois dias de febre permitem antecipar o diagnóstico.
Orientações práticas aos pais
Como orientar os pais ou a família nos casos de febre como manifestação única ou preponderante em que uma doença bacteriana grave foi excluída:
1. Se for o caso, esclarecer que se trata de doença presumivelmente viral, geralmente benigna e cuja febre é autolimitada a três dias completos. Explicar que a criança (especialmente o pré-escolar) tem infecções virais (evitar o termo “virose”) frequentes, e que isso é benéfico em longo prazo, pois estimula seu mecanismo imunológico (defesa). Pode também ser o caso de uma infecção bacteriana não grave (rinossinusite, amigdalite), com antibiótico adequado já iniciado, que necessita de 48 horas para que a febre cesse;
2. Utilizar roupas leves, manter o ambiente ventilado; nas horas mais agradáveis do dia, a criança pode ficar ao ar livre, sem exposição direta ao sol;
3. Oferecer líquidos com frequência e de acordo com a preferência (água, chás, sucos, água de coco);
4. Advertir que a redução do apetite é inevitável, e que a criança deve ser alimentada com aquilo que ela aceita e tolera melhor e reforçado de acordo com as possibilidades;
5. Explicar que uma febre moderada estimula os mecanismos de defesa contra a infecção, e assim não há necessidade, nem vantagem de normalizar inteiramente a temperatura;
6. Explicar que, por isso, o objetivo do antitérmico é apenas aliviar o desconforto causado pela febre, e deve ser usado apenas nos momentos em que ela está ocasionando indisposição acentuada, sem horário prefixado, mas respeitando o intervalo mínimo de cada medicamento;
7. Liberar os pais, de tomadas frequentes da temperatura, reservando- a para momentos de grande abatimento, tremores de frio ou se a criança parecer excessivamente “quentinha”. Nesses casos, manter o termômetro firmemente colocado sob a axila, por 4 minutos;
8. Prescrever o antitérmico mais facilmente disponível e individualizar, segundo a preferência, disponibilidade, aceitação, tolerância e eficácia habitual dos antitérmicos usuais (acetominofeno, dipirona ou anti-inflamatório não hormonal - AINH). Advertir para não “misturar” AINH e outros antitérmicos (perigo de hipotermia). Orientar quanto à dose correta e intervalo mínimo. Esclarecer que a diminuição da febre e do mal-estar só ocorre enquanto o antitérmico está fazendo efeito (4 - 6 horas, 8 - 12 horas para AINH), e que o retorno da febre após esse período é esperado, e não significa fracasso terapêutico;
9. Conversar sobre o benefício limitado do banho de imersão e das compressas mornas, que podem ser utilizados após o antitérmico, quando seu efeito não foi totalmente satisfatório; advertir contra o uso de água fria e contra a adição de álcool. Banho e compressas são aceitáveis, quando isso for do agrado da criança e não trouxer transtornos para a família;
10. Ensinar (falar e escrever) os sinais de alerta: febre acima de 39,4ºC com tremores de frio, abatimento acentuado ou forte indisposição (sonolência e irritabilidade, choro inconsolável ou choramingas, gemência) que não melhoram após o efeito da dose de antitérmico; aparecimento de sintomas diferentes; febre que ultrapassa três dias completos. A disponibilidade (telefone, retorno) é medida insubstituível.
Matéria por
Miucha Wolanski Negrão
Pediatria CRM/PR: 19040 | RQE: 13787 | Ponta Grossa