Período muito importante para o desenvolvimento de uma criança.
Para falar de um assunto tão importante, como o desenvolvimento da criança, vamos iniciar nesta edição com o primeiro ano de vida (dois meses a um ano), esse período é reconhecido pela perspectiva da Psicologia Histórico Cultural, como: comunicação emocional direta, que ocorre no bebê desde o nascimento até o primeiro ano de vida.
O período pós-natal, que marca a passagem da vida intra para a extrauterina do bebê, com a permanência de traços característicos do período anterior ao nascimento, ao mesmo tempo em que ocorre uma ruptura essencial com essa fase. Essa ruptura relaciona-se com a nova condição imposta pelo nascimento, por meio do qual se objetiva a nova formação no bebê, sua vida psíquica. A vida da criança, que se inicia já na gestação, sofre influência, em seu desenvolvimento, das condições de vida da gestante. Desde o período embrionário, tem-se o início de respostas emocionais de vínculo, as quais estão diretamente relacionadas com o estado emocional da mãe, no ambiente de desenvolvimento do feto e aos fatores bioquímicos.
O nascimento marca a transição entre a vida intrauterina e extrauterina, momento em que a criança é inserida, definitivamente, na sociedade, sujeita às condições impostas por ela. O nascimento ocasiona mudanças à existência objetiva da criança, pois o aconchego do útero materno será substituído pelo desenvolvimento em ambiente social. Nessa transição, há uma ruptura com o passado e o início do novo, em que as condições concretas de vida do recém-nascido serão determinantes de seu desenvolvimento psíquico, assim como nos demais períodos do desenvolvimento, tal vida será transformada, deixando marcas na personalidade do indivíduo. As primeiras expressões do recém-nascido, as caretas, os gritos e os movimentos massivos que abarcam todo o seu corpo, sendo indicadores de satisfação ou desconforto: fome, sono, dor e etc., sendo, antes de mais nada, reações instintivas que não se dirigem a algo ou alguém, mas que expressam os estados afetivos do bebê.
Essa fase corresponde à passividade, embora ocorra a separação física da mãe, o bebê continua dependendo dela em suas funções vitais, como a alimentação e a higienização. Esse período é caracterizado pelo sono e vigília, sendo que o bebê, normalmente, dorme a maior parte do tempo, de forma inquieta e descontínua. Trata-se de um período de adaptação ao mundo e representa um marco importante de desenvolvimento na vida da criança, pois nele se inicia o seu desenvolvimento cultural. O bebê não sobrevive distante do adulto, pois é quem supre todas as suas necessidades, desde a alimentação, movimentação, higiene e bem-estar, entretanto, o bebê ainda não é capaz de se comunicar.
Assim, o adulto precisa compreender os modos de ação da criança, para que a comunicação entre eles ocorra, ou seja, o adulto vai compreendendo o choro e outros sons. Nesse período, a atividade principal que guia o desenvolvimento da criança é a comunicação emocional direta com o adulto, primeira forma de comunicação do bebê, que se efetiva por meio de balbucios, choro, expressões faciais, gestos, sorrisos e movimentos do corpo, sendo necessário que o adulto interprete e compreenda suas necessidades.
Ao final do primeiro ano, a criança já consegue compreender de dez a vinte palavras e também pronuncia suas primeiras palavras, anunciando uma nova etapa no desenvolvimento, marcada por novas relações com os adultos e com os objetos, de maneira que ocorre uma mudança significativa na sua relação com o meio. Como a atividade que guia seu desenvolvimento é a atividade de comunicação emocional direta, vai depender da qualidade das relações interpessoais oportunizadas ao bebê para que ocorram saltos qualitativos no desenvolvimento. A qualidade do conteúdo da atividade de comunicação emocional direta é introduzida pelo adulto e, portanto, devemos ofertar às crianças tudo aquilo de mais elaborado produzido pelo homem ao longo da sua história, a fim de promover o seu desenvolvimento.
Ao final desse período, ocorre a crise de um ano, marcada pelas novas necessidades de ação do bebê, agora, um pouco mais independente, pois já consegue dar os primeiros passos, esboça as primeiras palavras, embora ainda não domine a linguagem para expressar todas as suas necessidades e tem limitadas condições de explorar seu entorno livremente, o que gera a crise. Assim, vemos uma criança inquieta, querendo andar para todos os lados, mas ainda precisando de ajuda, usando uma mesma palavra para se referir a uma infinidade de coisas e apontando com o dedinho, demonstrando irritação quando não interpretamos o que ela está querendo dizer, isso não significa que ela tenha problemas, mas sim uma necessidade de aprender.
A crise no desenvolvimento da criança, com base nos estudos desta abordagem, representa a formação da consciência embrionária de si mesma e do aparecimento embrionário da vontade, de forma que surgem novas possibilidades de ação da criança na sua relação com a realidade. Com isso, a criança inicia a primeira infância, período que vai aproximadamente dos dois aos três anos de idade, momento em que começa a ampliar seus contatos com os objetos, ampliar as possibilidades e as descobertas de novos objetos ao seu redor, marcando o início do período da atividade manipulatória-objetal, sobre a qual tratarei na próxima edição da Revista.
Matéria por
Marli Cabrera Soares
Psicopedagoga ABPp 13280 | Campo Mourão