A entorse do tornozelo é um dos traumas mais comuns e frequentes no dia a dia do ortopedista. No entanto, como devemos proceder frente a uma torção do tornozelo ainda não está muito claro para a maioria das pessoas. Todos nós conhecemos alguém que já teve uma entorse do tornozelo, não tratou adequadamente e depois ficou com um tornozelo ruim, que “dói”, “incha” e, às vezes, “sai do lugar”.
Uma “simples” torção pode acarretar em uma lesão dos ligamentos do tornozelo (estruturas que conferem estabilidade à articulação), levando a um quadro de instabilidade crônica (sensação que o tornozelo está frouxo) ou, mais tardiamente e mais grave, a um quadro de artrose (desgaste da articulação).
Mas, o que devemos fazer quando sofremos uma entorse do tornozelo?
Primeiro que existem muitos graus de torção, podendo ser uma torção Grau I (leve), onde não há uma lesão ligamentar; Grau II (moderado), onde ocorre apenas um estiramento ou lesão de 01 ligamento e até Grau III (grave), onde existe lesão ligamentar complexa e outras lesões associadas.
A intensidade da dor e do edema (inchaço) são os principais indicadores da gravidade da lesão. Quanto menos dor e menos inchaço, mais benigna é a torção e, provavelmente, os cuidados “caseiros” como gelo e um certo repouso levará a uma boa recuperação dentro de 2 a 3 dias. Em outros casos, a dor e o edema é tão intenso que alguns pacientes relatam que chegaram a chorar no momento da torção, não conseguiram mais andar e alguns até apresentaram uma liberação esfincteriana (não conseguiram controlar a urina). Nestes casos, devemos suspeitar que não se trata de uma “simples” torção, mas de alguma lesão importante, como uma fratura ou uma lesão ligamentar.
Nos casos moderados e graves, ou quando a dor e o edema nos casos mais leves não melhoram com as medidas “caseiras”, o paciente deve ser encaminhado a um pronto-atendimento para ser avaliado e medicado. Um bom exame físico de toda a perna, não só do tornozelo, deve ser feito e radiografias devem ser solicitadas para se descartar uma fratura. Caso não haja uma fratura do tornozelo, o paciente é medicado com anti-inflamatórios, analgésicos e realizado uma imobilização com tala gessada ou uma bota imobilizadora. Compressas de gelo e repouso ajudam no controle da dor e do edema.
Estes pacientes precisam ser reavaliados dentro de 7 a 10 dias, quando o ortopedista deve ser procurado para reexaminar o tornozelo e ver a necessidade de um exame mais específico, como uma ultrassonografia ou até mesmo, nos casos de piora ou persistência da dor e do edema, uma ressonância magnética do tornozelo afetado (estes exames precisam ser realizados e laudados por radiologistas especialistas no sistema musculoesquelético).
Com o diagnóstico correto das lesões, o tratamento conservador (sem cirurgia), chamado de funcional (em que se objetiva a recuperação mais rápida através de medidas de reabilitação com exercícios) é instituído por uma equipe capacitada de fisioterapeutas e, segundo a literatura atual, chega a 80% de bons resultados, com retorno às atividades esportivas e às atividades habituais do dia a dia, sem apresentar sintomas.
Cerca de 20-25% dos pacientes que tiveram uma lesão ligamentar do tornozelo, mesmo com o tratamento bem realizado, podem necessitar de uma abordagem cirúrgica. Após o retorno às atividades habituais ou esportivas, o paciente que apresenta dor ou edema no tornozelo aos esforços e/ou sensação de instabilidade (sensação de falseio/insegurança ou de não confiar mais no tornozelo), necessita de uma nova reavaliação. Para estes pacientes, a avaliação cuidadosa de um ortopedista que se dedica ao tratamento das patologias do Pé e Tornozelo e a realização de novos exames que auxiliem no diagnóstico, ajuda a definir qual a melhor opção de tratamento para cada paciente.
Esta individualização é importante porque, há alguns anos, estes pacientes que não ficaram bem após uma entorse moderada ou grave do tornozelo, com uma lesão ligamentar mal cicatrizada, eram “condenados” a viver fazendo fisioterapia ou a abandonar as suas atividades esportivas, uma vez que não eram empregadas, ou pouco conhecidas, as técnicas cirúrgicas para devolver a estabilidade e a “saúde” do tornozelo.
Atualmente, com a evolução das técnicas cirúrgicas cada vez menos invasivas (por exemplo, as técnicas com a utilização de videoartroscopia), é possível devolver a estabilidade da articulação e, em muitos casos, eliminar a dor que não permite que o paciente realize as suas atividades normais ou esportivas, num espaço de tempo relativamente curto (menos de 6 meses).
A procura constante pelo aperfeiçoamento destas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, ao trabalho em conjunto com os fisioterapeutas e a uma estrutura que possibilite a realização de exames de imagem que possam ser acompanhados pelo ortopedista, com a troca de informações direto com Radiologista, como presente no Hospital Viver, permite que o nosso grupo de Pé e Tornozelo consiga obter resultados consistentes e reprodutíveis, com a melhora na qualidade de vida dos pacientes e a possibilidade de poderem retornar ao seu esporte preferido.
Matéria por
ROGÉRIO BITAR
Ortopedia e Traumatologia CRM/SP 94240 - TEOT 8407 | Ribeirão Preto
GUSTAVO MAXIMIANO
Ortopedia e Traumatologia CRM/SP 134921 | RQE 50156 |