Uma mulher de 35 anos sai do seu trabalho no início da tarde e vai ao Pronto Atendimento por estar com uma dor no estômago. Ela tem gastrite desde a época do vestibular, mas dessa vez a dor está mais forte. Estava com pressa pois ainda tinha muito serviço no trabalho. Precisava de um atendimento rápido.
Na consulta, o médico pergunta:
- Boa tarde. O que lhe traz aqui?
- Uma gastrite, doutor!!! Estou com dor no estômago e preciso de um remédio para melhorar a dor e de um pedido para fazer uma endoscopia.
- Onde está doendo?
A paciente aponta para a barriga.
Rapidamente, o médico examina o abdome e volta ao computador.
- Vou te passar um medicamento pela veia e ficará em observação por uma hora. Se não melhorar, avise o enfermeiro para mechamar. Vou te dar o pedido da endoscopia e um medicamento para tomar em casa nos próximos dias.
Alguns minutos depois...
- Seus papéis estão prontos. Você tem alguma dúvida?
Isso é um exemplo relativamente comum na atualidade. Nesta história, observa-se um paciente e um médico apressados. A paciente acredita que a irritação do estômago será resolvida com medicação. O médico procurou atender o pedido da paciente ao passar um remédio para alívio e solicitar um exame para confirmar o diagnóstico.
Os dois personagens não perceberam que havia alguns DETALHES envolvidos:
• A paciente é mãe de uma adolescente de 13 anos. Está com conflitos de relacionamentos com ela. Sente a filha mais afastada, estranha e pouco comunicativa. Gostaria de lhe dar mais atenção, mas o tempo está apertado;
• Está insatisfeita com seu corpo. Ela pensa em fazer uma cirurgia plástica para levantar os seios e uma lipo para afinar a cintura. Afinal, o marido não tem mostrado tanto interesse;
• No trabalho, as coisas estavam tensas. Muitos funcionários tinham sido demitidos, mas ela era o braço direito do chefe, tinha a confiança dele, mas também tinha muito trabalho a fazer;
• Em relação à sua saúde, estava sedentária há vários anos. Não é fácil cuidar de uma casa, ter um trabalho e ser mãe. Além disso, ela nunca gostou mesmo de fazer exercícios. Sua alimentação também não era das melhores. Saía muito cedo de casa, sem tomar café da manhã. No almoço, comia perto do trabalho, sempre com pressa e só iria comer melhor no jantar.
Fica evidente que um medicamento por si só não irá resolver o problema da paciente, e nem esse médico sentirá satisfação em fazer um atendimento mecanizado. Por histórias similares a essa, nasceu a Medicina Integrativa. A Medicina Integrativa propõe uma parceria entre o paciente e o médico, de tal forma que o médico busca ajudar o paciente a tomar as rédeas da sua saúde. O paciente é o ator principal no processo de cura. É o verdadeiro tutor de sua saúde. A função do médico é orientar, estimular, incentivar o paciente a sair da passividade do tratamento e se tornar o principal cuidador. Sai de cena a mulher que recebe passivamente comprimidos para gastrite e deseja uma solução “mágica”. Entra em cena uma pessoa que recebe esclarecimentos de como a gastrite se manifesta e compreende que é necessário mudar velhos hábitos e conquistar novos mais saudáveis, se quiser realmente melhorar. Compreende que é necessário ter tempo para cuidar não só do corpo, como também da mente e dos relacionamentos que vivencia.
Curiosidade
A Medicina Integrativa não é uma especialidade médica. Trata-se de uma nova forma de olhar a medicina que já é praticada, mas agora de uma forma mais completa e integral do ser humano. Os grandes divulgadores desta ideia não aspiram que ela se torne uma especialidade no futuro. Eles aspiram que todos os médicos, cada um dentro de sua especialidade, atuem de forma integrativa.
Matéria por
Bernardo C. de Figueiredo
Cirurgia Geral CRM/MT 3784 | RQE 1782 | Cuiabá