Paliar, tem sua origem do latim (pallium quer dizer manto), significa proteger, abrandar, ajudar. Nos dias de hoje, a medicina paliativa vem ga- nhando cada vez mais destaque. Ela não compreende apenas uma área de atuação ou especialidade, mas sim uma filosofia. O foco do paliativismo está na pessoa à nossa frente e não apenas na doença e na medicina alopática. Por muito tempo, o médico via o paciente como uma pessoa com uma doença, cujos esforços deveriam ser feitos a todo custo para tratar a enfermidade e resolver este determinado problema/ ameaça à vida.
A medicina paliativa, não perdendo a atenção para o tratamento da doença em si, foca na pessoa e em seu sofri- mento valorizando sua trajetória, suas crenças, suas vontades e, principalmen- te, sua qualidade de vida. Geralmente, as equipes de cuidados paliativos lidam com doenças graves (como cânceres, insuficiências cardíacas, pulmonares, renais e outros) e se baseiam em indica- dores e scores prognósticos que indicam pessoas com performance e quadros de saúde mais comprometidos, sendo então aqueles com maior indicação e necessidade de tratamentos paliativos. A equipe busca, de todas as maneiras, amenizar o sofrimento das pessoas fa- zendo com que suas trajetórias de vida sejam as mais dignas possíveis. Isso se dá por meio de uma abordagem multi-disciplinar envolvendo profissionais das áreas médicas, da enfermagem, nutri- cionistas, psicólogos, fisioterapeutas, farmacêuticos, assistentes sociais e outros que, através de suas ações cooperadas, conseguem prover ao doente o alívio físico, emocional e espiritual.
Além de promover ganho em quali- dade de vida e amenizar o sofrimento, evidências científicas apontam que a abordagem de equipes especializadas em cuidados paliativos consegue aumentar consideravelmente o tempo de vida de muitos pacientes. Um exemplo clássico foi o estudo publicado em 2010 na revista New England Journal of Medicine, o qual mostrou que associar precocemente os cuidados paliativos ao tratamento padrão (quimioterápico) de pacientes com câncer de pulmão avan- çado recém-diagnosticados resultou em ganho de qualidade de vida, menos depressão, menos recebimento de tra- tamentos médicos agressivos e internações e um ganho de aproximadamente mais 3 meses de vida, comparado aos pacientes que não receberam este tipo de atenção.
Para receber cuidados paliativos, a pessoa não precisa estar morrendo ou estar próxima disso. Na verdade, qual- quer pessoa com condições graves que apresenta sinais/sintomas de sofrimen- to de difícil controle se beneficia do tratamento paliativo, devendo iniciar este acompanhamento o quanto antes na evolução de sua doença.
Existe um clássico aforismo com cita- ções variadas e autor indefinido – frequentemente atribuído a Hipócrates – que diz: “Curar algumas vezes, aliviar quando possível, consolar sempre”. As traduções das obras de Hipócrates nos trazem sua concepção de medicina: “[...] penso que o seu objetivo, em termos gerais, é o de afastar os sofrimentos do doente e diminuir a violência de suas doenças [...]”. Assim sendo, a intenção da medicina paliativa é uma das mais nobres e antigas do mundo. Esta deve ser usada e difundida por equipes de saúde, trazendo claramente seus be- nefícios ao sistema de saúde, a nível individual e coletivo.
O Complexo ISPON está comemoran- do neste ano, 10 anos de atuação nos cuidados paliativos. Promove bianu- almente o Fórum sobre Cuidados Pa- liativos e possui a EMCP, Equipe Mul- tiprofissional de Cuidados Paliativos, com profissionais associados à ANCP (Academia Nacional de Cuidados Palia- tivos), desenvolvendo um trabalho reco- nhecido dentro e fora do nosso estado.
Matéria por
Pedro Grachinski Buiar
Clínica Médica CRM/PR 32421 | RQE 24830 | RQE 24831 | Ponta Grossa