O que antes era raro agora se torna comum: entenda os fatores que contribuem para a perda de cabelo em jovens e os avanços da medicina para combatê-la.
Por muito tempo, a calvície remetia apenas a imagens de adultos, geralmente homens, com histórico familiar de perda de cabelo. No entanto, um novo fenômeno começa a chamar a atenção nos consultórios dermatológicos: a queda capilar em adolescentes e até mesmo em crianças. E não se trata mais de casos isolados – esse cenário tem se tornado cada vez mais frequente.
Tradicionalmente, quando uma criança ou jovem apresentava queda capilar, as causas mais comuns envolviam infecções fúngicas, deficiências nutricionais, doenças autoimunes (como a alopecia areata), uso de medicamentos ou a tricotilomania – distúrbio em que o próprio indivíduo arranca os fios. Nos últimos anos, porém, outra causa passou a ganhar destaque: a Alopecia Androgenética.
Fatores que vão além da genética
O principal fator de risco da Alopecia Androgenética é a predisposição genética associada a hormônios androgênicos. No entanto, estudos recentes apontam uma transformação importante: nas últimas décadas, tem-se observado uma antecipação da puberdade e da adrenarca — fase em que o corpo inicia mudanças hormonais para a vida adulta. Especialistas relacionam esse fenômeno a fatores ambientais, metabólicos e hormonais.
Entre os fatores de risco estão o aumento da obesidade e sobrepeso infantil, consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, dietas ricas em açúcar e sedentarismo. Essas condições podem desencadear síndromes metabólicas, como o hiperandrogenismo (elevação de hormônios masculinos) e a síndrome do ovário policístico (SOP), cada vez mais comum em meninas.
Essas alterações hormonais podem afetar diretamente as células produtoras de cabelo, provocando afinamento dos fios e redução da densidade capilar.
Outro fator preocupante são os disruptores endócrinos – substâncias presentes em plásticos, cosméticos, produtos de higiene e alimentos industrializados – que interferem no sistema hormonal, podendo contribuir para a puberdade precoce e, indiretamente, para a queda capilar.
Além disso, o estresse crônico e o uso excessivo de telas e redes sociais também impactam o equilíbrio neurológico e hormonal dos jovens, influenciando a saúde dos cabelos.
Diagnóstico precoce e tratamento eficaz
Nos estágios iniciais da Alopecia Androgenética é comum perceber queda acima do habitual e redução de volume na parte superior da cabeça, devido ao encurtamento do ciclo capilar e ao afinamento da haste do fio. Com os avanços da medicina, porém, é possível identificar essas alterações antes mesmo de se tornarem visíveis.
A tricoscopia digital, tecnologia utilizada na tricologia médica — área da dermatologia que estuda os cabelos — permite ao especialista medir a espessura dos fios e contar a quantidade de cabelos por região. Com isso, é possível identificar precocemente os quadros de alopecia.
Novas soluções e esperança para os jovens
Com o avanço da tricologia médica, já existem ativos naturais e medicamentos modernos, tópicos e orais, capazes de frear e até reverter o processo de queda capilar. Quando iniciado precocemente e com acompanhamento especializado, é possível modificar o curso natural da calvície e recuperar a saúde dos fios.
Se cabelos são sinônimo de autoestima na vida adulta, na adolescência eles têm ainda mais peso emocional e social. Estar atento aos sinais precoces e buscar orientação médica especializada pode evitar consequências mais intensas no futuro — tanto no couro cabeludo quanto na autoconfiança.
A calvície precoce já não é uma exceção. E a informação, aliada à ciência, é o primeiro passo para enfrentá-la com leveza, cuidado e resultados.
Matéria por
Flávia Valone Gorini Jacob
Dermatologia CRM/PR: 26671 RQE: 17257 | Londrina