Imagine se todas as manhãs, antes de ir para o trabalho, você tomasse uma cápsula que, além de te deixar mais ligado e concentrado, melhorasse a memória e impulsionasse a criatividade e a produtividade. É isso que cada vez mais pessoas estão fazendo em lugares como o Vale do Silício, considerada a capital mundial da indústria da tecnologia, onde os chamados nootrópicos vêm se popularizando nos últimos anos. Essas substâncias – cujo nome vem do grego “nóos” (mente) e “tropo” (direção) – são capazes de ajudar a melhorar o desempenho mental sem produzir efeitos colaterais. Certo? Bom, vamos por partes:
Sim, podemos dizer que as “smart drugs” (drogas inteligentes) existem, mas elas precisam ser divididas em duas categorias: sintéticas e naturais. Piracetam, Ritalina e Modafinil, por exemplo, são drogas sintéticas e devem ser utilizadas mediante prescrição médica para distúrbios como a narcolepsia (distúrbio do sono) e déficit de atenção. Indivíduos sadios, sem qualquer problema neurológico, estão fazendo uso dessas drogas com a finalidade de melhorar a cognição, memória e velocidade de raciocínio. Os resultados são extremamente controversos e seu uso indiscriminado e abusivo totalmente desaconselhado. Não caia nessa armadilha!
Já as “smart drugs” naturais podem ser encontradas na nossa alimentação mesmo, ou utilizadas na forma de suplementos manipulados. Estamos falando de determinadas vitaminas, minerais e aminoácidos, que, quando usados da forma correta, têm demonstrado uma melhora no processo de memória, cognição e disposição em certos indivíduos. Os estudos, apesar de ainda preliminares, demonstraram bons resultados, fazendo com que alguns médicos já iniciassem o processo de prescrição de alguns suplementos para o tratamento e, principalmente, a prevenção de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson. É o caso do uso em altas dosagens de Ômega 3 (rico em DHA e EPA, ácidos graxos poli-insaturados), Vitamina B12, Vitamina E e Magnésio. Além destes, entre os nootrópicos naturais, podemos destacar também fitoterápicos como o Ginkgo biloba e Rhodiola rosea, aminoácidos como L-Triptofano, L-Theanina, Fosfatidilserina e Bitartarato de Colina, minerais como o Selênio e Fósforo (além do magnésio, mencionado acima) e vitaminas, como a Piridoxina (vitamina B6) e Tiamina (vitamina B1). Todos têm demonstrado ótimos resultados quando falamos em melhora no aporte de oxigênio para o cérebro, memória e proteção neural.
Mas aqui vale uma ressalva: hoje, o que se sabe com certeza é que a atividade cerebral melhora com o exercício físico. Portanto, é preciso estimular a mente, mas de preferência de forma orgânica, fisiológica, através de algumas técnicas já estabelecidas. Podemos melhorar nossa memória fazendo palavras cruzadas, por exemplo, ou lendo com mais frequência. Ainda, fazendo caminhos diferentes para o trabalho e principalmente, nos exercitando rotineiramente. O que a memória não gosta é de acomodação. Quanto menos é trabalhada, menos eficaz ela se torna.
E um último detalhe: Esquecer também é importante! O esquecimento é um mecanismo de eliminação natural de informações desnecessárias, sem o qual viveríamos com uma sobrecarga do sistema nervoso. O escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) escreveu um conto sobre o assunto (Funes, o Memorioso) no qual relata um personagem que se lembrava de tudo, não apenas “de cada folha de cada árvore de cada monte, mas cada uma das vezes que a havia percebido ou imaginado”. Borges apresenta essa habilidade como um tormento paralisante. Funes guardava tanta informação que, para reconstituir um dia, gastava outro dia inteiro. Era alguém talvez até incapaz de pensar, porque “pensar é esquecer detalhes, é generalizar, abstrair”.
Matéria por
RICARDO A. ZASTROW
Bioquímica CRF/SC 4152 | Joinville