Os tratamentos para os tumores de cabeça e pescoço tem evoluído nos últimos anos, quer sejam nas técnicas cirúrgicas menos invasivas (cirurgias transorais), nas radioterapias com modulação de intensidade (IMRT) e/ou nas drogas quimioterápicas mais específicas utilizadas (ex: cetuximabe).
Entretanto o aumento das toxidades tardias em sobreviventes de cabeça e pescoço tem levantado questionamentos sobre a intensidade dos tratamentos, já que os pacientes ficam com a qualidade de vida prejudicada apresentando dificuldades nas habilidades funcionais para conviver em sociedade.
Uma das sequelas tardias mais frequente associada as diferentes modalidades de tratamento: cirurgia, radio e/ou quimioterapia é a disfagia tardia – dificuldade de ingerir alimentos pela boca.
Outras sequelas como:
• Odinofagia = dor ao deglutir;
• Linfoedema = inchaço/edema;
• Trismo = dificuldade em abrir a boca;
• Xerostomia = boca seca/ausência de saliva;
• Mucosite/Candidíase oral= infecção/inflamação;
• Disgeusia/ageusia= alteração/ perda do paladar;
• Ardência e queimação de mucosa orofaríngea;
• Fibrose de tecidos;
• Osteoradionecrose;
• Perda auditiva;
• Disfonia = alteração na voz podem persistir também por um longo periodo e/ou permanecer por definitivo para muitos pacientes.
Fatores como idade, disfunção na deglutição pré-tratamentos, localização do tumor, tipo da irradiação uni ou bilateral, associação ou não a quimioterapia fazem grande diferença nas sequelas tardias que o paciente poderá apresentar. Os tratamentos convencionais tem mostrado alta chance de cura, porém tem mantido um alto grau de toxidade.
Por isso há necessidade de se repensar a desintensificação dos tratamentos, sem perder de vista o controle oncológico: diminuindo dose de radiação, trocando ou omitindo quimioterapia, realizando cirurgias menos invasivas e otimizando tratamente adjuvante.
Observa-se nas últimas décadas diminuição na idade e no perfil dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Atualmente são pacientes mais jovens (abaixo de 50 anos), não fumantes, sem histórico com abuso de álcool, porém com HPV positivo (papiloma vírus).
Se adaptar a esta nova situação nem sempre é fácil, já que com tantas alterações para se alimentar muitos pacientes perdem o prazer em comer, ficam com medo de se engasgarem, sentem vergonha por tossirem durante a ingesta alimentar, levando a perda significativa de peso, quadro de depressão, isolamento e desânimo.
Para que haja uma reabilitação efetiva é fundamental que o paciente tratado de um tumor de cabeça e pescoço seja acompanhado por uma equipe multiprofissional com: fonoaudiólogo, fisioterapeuta, estomatologista, oncologista, cirurgião de cabeça e pescoço, psicólogo, nutricionista para que supere as intercorrências agudas e crônicas decorrentes dos tratamentos realizados.
Matéria por
Elisa Gomes Vieira
Fonoaudiologia CRFa 4850- 3R/SC | Florianópolis