A ecocardiografia fetal vem se incorporando cada vez mais aos exames pré-natais em virtude dos benefícios relacionados ao diagnóstico e possibilidade de tratamento oportuno intraútero e neonatal precoce. O prognóstico de muitas cardiopatias graves depende na maioria das vezes de um diagnóstico intraútero adequado com planejamento do parto em centro de referência especializado.
Estudo francês comparando evolução perinatal entre bebês com transposição das grandes artérias com e sem diagnóstico pré-natal provou que o diagnóstico pré-natal diminuiu significativamente a mortalidade pré e pós-operatória. Outros estudos sugeriram melhores resultados para Síndrome de Hipoplasia do Coração Esquerdo (SHCE) e coartação da aorta, quando diagnosticadas na vida fetal.
Alguns autores advogam que o exame de ecocardiografia fetal seja realizado por todas as gestantes visto que muitos casos de cardiopatias congênitas ocorrem em grupos de baixo risco e não são detectados pelo rastreamento no momento da ultrassonografia pré-natal cujas taxas de detecção não ultrapassam 50%. Por outro lado, em mãos experientes é possível detectar próximo de 100% de todas as anomalias cardíacas na vida fetal sendo considerada o padrão ouro para o diagnóstico cardíaco fetal.
O acesso de todas às gestantes à médicos com experiência em ecocardiografia fetal não é uma realidade e, portanto, os esforços devem ser direcionados para a difusão do ensino e a propagação do treinamento necessárias para se alcançar padrão melhor e mais uniforme de rastreamento pré-natal de cardiopatias congênitas pela ultrassonografia obstétrica.
Na tabela 1 estão dispostos os principais fatores de risco para cardiopatia fetal, divididos em risco absoluto ≥2% e <2% para que o obstetra clínico não perca a chance do diagnóstico da cardiopatia fetal em momento oportuno.
Tabela 1 Condições clínicas que aumentam o risco para cardiopatia fetal, sendo consideradas as indicações para a ecocardiografia fetal
Risco absoluto ≥ 2% CR/NE
Diabetes melito materno pré-gestacional I/A
A Diabetes melito materno diagnosticado no primeiro trimestre I/A
Fenilcetonúria materna de difícil controle I/A
Anticorpos maternos anti-RO e anti-LA (SSA/SSB) IIa/B
IECA IIa/B
Ingestão materna de medicações Ácido retinoico I/B
Anti-inflamatórios não hormonais no terceiro trimestre I/A
Rubéola materna no primeiro trimestre I/C
Infecção materna com suspeita de miocardite fetal I/C
Gestação por reprodução assistida IIa/A
CC em parente de primeiro grau (mãe, pai ou irmão portador) I/B
Herança mendeliana associada à CC em parente de primeiro ou segundo graus I/C
Suspeita de CC pelo ultrassom obstétrico/morfológico I/B
Suspeita de anomalia extracardíaca pelo ultrassom obstétrico/morfológico I/B
Cariótipo fetal anormal I/C
Ritmo cardíaco fetal irregular, bradicardia ou taquicardia I/C
Translucência nucal aumentada > 95% (≥ 3 mm) IIa/A
Gestação gemelar monocoriônica I/A Hidropisia fetal ou derrames I/B
Risco absoluto entre 1 e 2%
Anticonvulsivantes IIb/A
Ingestão materna de medicações Lítio IIb/B
Vitamina A IIb
Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (somente paroxetina) IIb/A
Anti-inflamatórios não hormonais em primeiro e segundo trimestre IIb/B
CC em parente de segundo grau IIb/B
Anormalidade fetal do cordão umbilical ou da placenta IIb/C
Anomalia venosa intra-abdominal fetal IIb/C
Risco absoluto ≤ 1%
Diabetes melito materno gestacional com HbA1c < 6% III/B
Ingestão materna de medicações Inibidores seletivos da recaptação da serotonina III/A
(todos exceto paroxetina)
Agonistas da vitamina K (varfarina) III/B
Infecção materna diferente da rubéola com apenas soroconversão III/C
CC isolada em algum parente distante (sem ser de primeiro ou segundo graus) III/B
CC: cardiopatia congênita; CR: classe de recomendação; HbA1c: hemoglobina glicada; IECA: inibidores da enzima conversora de angiotensina; NE: nível de evidência. Fonte: Adaptado de Donofrio et al.17
Pedra SRFF, Zielinsky P, Binotto CN, Martins CN, Fonseca ESVB, Guimarães ICB et al. Diretriz Brasileira de Cardiologia Fetal - 2019. ArqBrasCardiol. 2019; 112(5):600-648.
Matéria por
Anselmo Verlangieri Carmo
Ultrassonografia CRM/MT 2398 | RQE 1556 - RQE 1421 | Cuiabá