A febre amarela é uma doença febril aguda de curta duração (máximo 12 dias) e de gravidade variável, cujo agente etiológico é um arbovírus. Tem início súbito, com sintomas gerais como febre, calafrios, dor de cabeça, dor lombar, dores musculares generalizadas, prostração, náuseas e vômitos. A forma grave caracteriza- se por apresentar insuficiência hepática e renal. Em muitos casos, evolui para óbito em aproximadamente 1 semana
A vacinação é a medida de proteção mais eficaz contra esse agravo.
Os pacientes com alergia alimentar ao ovo, os pacientes com imunodeficiências primárias ou secundárias e os idosos constituem populações especiais que devem ser analisadas de maneira individual no momento de indicar ou contraindicar a vacina contra febre amarela.
A vacina é recomendada nas seguintes situações:
• Todos residentes das áreas com recomendação para vacinação com idades entre 9 meses e 59 anos de idade
• Indivíduos não vacinados, que deslocam para essas áreas
• Em viagens para países que exigem a vacinação.
A vacina febre amarela está disponível para uso clínico desde 1930, e já foram aplicadas mais de 540 milhões de doses no mundo. A maioria dos efeitos adversos pós-vacinais relatados são dor local, mal-estar, cefaleia, dores musculares e febre baixa em 2-5% dos vacinados, e ocorrem entre o quinto e décimo dia após a vacinação. No Brasil, no período de 2007 a 2012, a ocorrência de efeitos adversos graves (EAG) à vacina foi 0,42/100.000 doses administradas. Os principais EAG associados à vacina febre amarela são: anafilaxia, doença neurológica associada à vacina febre amarela e a doença viscerotrópica associada à vacina febre amarela.
A vacina febre amarela é cultivada em ovos embrionados de galinha. A vacina não é aquecida em nenhum momento de sua produção, assim, quantidades residuais de proteína do ovo podem estar presentes.
Além da ovoalbumina (proteína do ovo), podem ser considerados como possíveis causadores de reação de hipersensibilidade à vacina febre amarela: o próprio agente vacinal (vírus vivo atenuado da febre amarela), gelatina bovina, eritromicina, canamicina, látex (esses quatro últimos presentes em algumas apresentações da vacina), e proteína da galinha. A ocorrência de anafilaxia é muito baixa, variando de 0,8 a 1,8 casos /100.000 doses aplicadas.
O questionamento sobre alergia a ovo é considerado adequado para todas as pessoas que irão receber a vacina febre amarela. Se o indivíduo tem diagnóstico ou suspeita clínica de alergia a ovo, deve ser encaminhado ao alergologista para realização de investigação de possível sensibilização a ovo pelos testes cutâneos de hipersensibilidade imediata ou quantificação de IgE específica sérica. Se o teste for negativo, a vacina será administrada e o indivíduo mantido sob supervisão por algum tempo. Caso resultado seja positivo, confirmada a sensibilização a ovo, o paciente será dessensibilizado empregando-se a vacina em doses fracionadas, conforme algoritmo sugerido.
A experiência clínica com o uso da vacina febre amarela é vasta no Brasil. Entretanto, publicações são necessárias para avaliar o risco real entre a associação de alergia a ovo e a vacina febre amarela. Talvez, no futuro, possamos chegar às mesmas conclusões já alcançadas sobre o uso da vacina influenza nos pacientes alérgicos a ovo.
No Brasil, a maior parte do território é considerada área endêmica ou área de risco para a febre amarela. Frente a isso, temos que ser cautelosos ao contraindicar a vacinação contra a febre amarela, uma doença com alta letalidade, para a qual não há tratamento específico. A vacinação continua sendo a forma mais eficaz de proteção contra a doença.
Matéria por
Éthel Barbosa Raunheitti de Souza
Médica CRM/MT 8237 | Rondonópolis