Desde a sexta semana de gestação, quando coração começa efetivamente a trabalhar, seus batimentos vão nos acompanhar por toda a nossa vida. No primeiro ultrassom quando os pais ouvem os batimentos do bebê pela primeira vez, esta sensação sublime causa intensa emoção e marca o início dos laços familiares de afeto.
Este incrível órgão vital pode também se formar com alguma alteração, neste período gestacional, que denominamos de Cardiopatia Congênita. A incidência de cardiopatia nos bebês nascidos vivos é em torno de 1%. Pode parecer baixa mas por exemplo, Joinville, segundo o IBGE, em 2017, o número de nascimentos foi de 8.083. Seriam esperados 80 casos de cardiopatia congênita e destes a metade seriam casos cirúrgicos. A incidência de cardiopatia em fetos é cinco vezes maior, pois como podem vir associada a síndromes genéticas e outras malformações, algumas vezes incompatíveis com a vida, acabam sendo causa de aborto ou óbito fetal.
Como o tratamento cirúrgico das cardiopatias e cuidados neonatais evoluíram muito nas últimas décadas. Crianças que não teriam chance, hoje conseguem ter uma vida normal. Mesmo nos casos mais graves a sobrevida melhorou muito. É fundamental nesses casos o diagnóstico precoce. O rastreio de cardiopatias pelo ultrassom obstétrico melhorou muito, mas mesmo na Europa trabalhos indicam uma taxa de detecção de 40- 60%. Por isso o exame de Ecocardiografia fetal surgiu como ferramenta para melhorar o diagnóstico.
Quando fazer?
???????O ideal é entre 26 e 28 semanas. Por volta de 18 semanas o coração é muito pequeno e pode requerer uma avaliação adicional mas a partir desta idade o exa
me pode ser feito, principalmente em casos especiais. Depois de 32 semanas a imagem vai ficando prejudicada pelas sombras acústicas caraterísticas do final da gestação, e é usado para reavaliações de estruturas especificas, pois algumas cardiopatias tem caráter evolutivo.
Quem deve fazer ?
Existem indicações estabelecidas por diretrizes internacionais quando o risco é superior a 2%, considerado alto que são:
• Diabetes pré- gestacional ou diagnosticado no primeiro trimestre;
• Anticorpos maternos anti-RO e anti-LA;
• Uso de medicações IECA, Ac. Retinóico ou AINH no terceiro trimestre;
• Rubéola materna no primeiro trimestre ou suspeita de miocardite fetal;
• Gestação por reprodução assistida;
• Cardiopatia congênita em parentes de primeiro grau associada ou não a herança mendeliana;
• Suspeita de cardiopatia ou anomalia extracardíaca pelo ultrassom obstétrico/morfológico;
• Cariótipo fetal anormal;
• Ritmo cardíaco irregular;
• Translucência nucal aumentada > ou = 3mm;
• Gestação gemelar monocoriônica;
• Hidropsia fetal ou derrames.
Ainda indica-se para casos de baixo risco, com risco absoluto entre 1-2%: ingestão materna de anticonvulsivantes, lítio, Vitamina A, Paroxetina ou AINH em primeiro e segundo trimestres, cardiopatia congênita em parente de segundo grau, anormalidade do cordão umbilical ou placenta e alteração venosa intra-abdominal fetal. No entanto, em 90% dos casos de cardiopatia congênita não se identifica nenhum fator de risco associado. Por isto, alguns autores nacionais afirmam que
toda a gestante deveria fazer. Além do que ficar restrito a essas indicações pode funcionar em outros países quando se tem um fluxograma de encaminhamento para centros de referência que funciona. Diferente da nossa realidade. Desta forma é importante que os bebês com cardiopatia grave que precisam de cirurgia no período neonatal, tenham o diagnóstico ainda durante a gestação para que o parto seja programado com uma equipe preparada e muitas vezes que seja num hospital com equipe de cirurgia cardíaca infantil ou próximo a este e com vaga garantida. Esta organização é fundamental para o sucesso no tratamento diminuindo a morbidade, prevenindo os danos neurológicos nos casos de hipoxemia e aumentando a sobrevida.
Mesmo bebês sem cardiopatia podem apresentar dificuldades na adaptação da respiração após o nascimento e necessitar de fonte de oxigênio adicional. Nestes casos, tendo um exame de ecocardiograma fetal normal prévio, ajuda o neonatologista na tomada de decisões. O que mais se quer é que o bebê nasça em segurança e tenha alta logo. Este é o desejo da família, e cabe a equipe médica tomar os cuidados pré e pós- natais necessários para que isto ocorra da melhor forma possível.
Matéria por
Giuliana G. S. Casagrande
Cardiologia Pediátrica CRM 7940 |