É importante diferenciar hemorroidas de Doença Hemorroidária, termos que geram muita confusão nos pacientes. Hemorroidas são estruturas normais do corpo e todos as têm. Podemos, de maneira simplificada, entendê-las como redes de vasos sanguíneos, em geral, pequenas artérias e veias que se comunicam. São essencialmente duas “redes”ou “plexos” hemorroidários: as hemorróidas internas (que forram, internamente, o canal anal) e as hemorroidas externas, contidas sob a pele que reveste a margem do ânus. A Doença Hemorroidária é uma alteração destes vasos, podendo ocorrer no plexo interno apenas, no plexo externo ou em ambos.
Dentre os seus sintomas mais frequentes, destacamos o prolapso (sensação de exteriorização das hemorroidas, especialmente durante o esforço de evacuar), a hematoquezia (o sangramento aparente com as fezes, ao evacuar, em geral indolor) e as crises de trombose hemorroidária externa, que podem ser de repetição. Didaticamente, podemos explicar a trombose hemorroidária como a formação de coágulos que se formam nas hemorroidas externas, caracteristicamente com tumefação local de instalação abrupta, com dor na maior parte das vezes e, eventualmente, sangramento. A trombose é bem mais frequente nas hemorroidas externas. Uma combinação de sintomas pode ocorrer, particularmente nos pacientes que têm doença hemorroidária mista.
Diversos mecanismos procuram explicar a gênese da doença hemorroidária aparentemente, uma dilatação e fragilidade dos vasos hemorroidários, em algum caso com comunicação importante das artérias e as veias (o que explicaria a tumefação destes), têm papel importante.
Recentemente, foi proposto o papel da perda de sustentação das hemorroidas dentro do canal anal, o que faria com que elas “escorregassem” para o exterior, fenômeno exacerbado pelo esforço crônico para evacuar e outros fatores, como carregar muito peso. Além do aspecto mecânico que “forçaria” as hemorroidas para a parte externa, a perda de colágeno – como acontece com o processo de envelhecimento – faria com que estas se exteriorizassem com mais facilidade. De fato, idosos e halterofilistas apresentam doença hemorroidária com maior frequência.
Por fim, o fato de o homem ter-se tornado bípede relativamente há pouco tempo (de um ponto de vista evolutivo), sem que tenha havido tempo para que o organismo se adaptasse ao efeito da gravidade sobre suas estruturas (o que gera diversos problemas, como hérnias de discos ou varizes) parece ter algum papel. Assim, haveria maior dificuldade de o sangue da parte inferior do corpo retornar ao coração, o que explicaria sua permanência, “enchendo“ algumas estruturas, como varizes nas pernas e as hemorroidas. Ainda, no surgimento da Doença Hemorroidária, algumas situações particulares parecem estar implicadas, como alterações hormonais (particularmente nas mulheres) e gestação, por uma combinação de fatores hormonais e relacionados ao crescimento uterino. Discernir doença hemorroidária de hemorroidas é importante, pois tem implicações importantes no tratamento. Mas é importante ressaltar que mesmo nos casos em que não haja doença hemorroidária, pode haver sintomas como sangramento. Especialmente nos casos em que haja grande esforço para evacuar e que as fezes saiam muito compactas e ásperas. Afinal, como vimos, hemorroidas todos temos.
" De fato, idosos e halterofilistas apresentam doença hemorroidária com maior frequência. "
Matéria por
Gilson Martins
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